A máquina de moer expectativas ingênuas - Condado View
Legenda: Esta é a sua carta semanal para atualizar o cenário de mercado. O objetivo é que você pelo menos fique um pouco mais informado ou tenha o que comentar na mesa do almoço.
Brasil - Tudo muda em uma semana e nada muda em dez anos
A escalada da taxa de câmbio que vimos na semana passada deu uma chacoalhada no mercado. Esse movimento é um belo termômetro do cenário externo, que é o que está pautando todas as discussões no fim das contas.
O nosso querido presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, aproveitou a oportunidade em um evento em Washington, aos arredores do encontro anual do FMI, para comentar sobre a mudança de cenário. Você já vai entender porque da semana passada para cá a expectativa da magnitude do corte da taxa de juros na próxima reunião do Copom mudou.
O Roberto Campos se livrou do guidance de um corte de 0,5 ponto percentual na próxima reunião e deu alguns cenários possíveis. O resumo da ópera é que só vai ter 0,5 ponto percentual de corte se as incertezas caírem, caso nada aconteça a magnitude do corte vai ser menor - provavelmente 0,25 pontos - e ainda, no caso das incertezas se agravarem muito e isso afetar diretamente a macroeconomia local e consequente o balanço de risco do BC passar a ser assimétrico para o lado ruim, outras medidas seriam tomada - ele deixou no ar, mas as outras duas outras opções seriam deixar como está ou até mesmo subir - essa bem menos provável. Afinal, o BC é independente inclusive em relação ao que ele mesmo falou no passado, só não esquece de levar em conta a psicose maníaco depressiva do seu sócio.
Mais um dia normal no mercado: a taxa pode cair, cair menos ou ficar como está.
Essa semana tivemos a declaração do FMI sobre o nosso Acabou-se Fiscal. Todo mundo já está careca de saber, mas foi mais um para ajudar a fechar a tampa do caixão: após a revisão da meta fiscal para baixo o FMI disse que acha que o Arcabouço Fiscal não vai conseguir estabilizar a dívida pública no tempo previsto. Quem diria?
Os PMIs dos EUA mais fracos e os da Europa mais fortes indicaram que o mundo está crescendo mais e os EUA perdendo fôlego. Mas o que isso tem a ver com o Brasil? Esse movimento ajudou a pintar um quadro melhor para câmbio no Brasil, com o dólar fechando abaixo de R$5,15 na terça-feira (23).
E não foi só você que tomou uma chamada do seu chefe essa semana. O presidente Lula, no lançamento do Acredita, programa de crédito para pequenas empresas, citou nomes como o do Haddad e Alckmin para chegarem junto com agilidade na articulação com o senado e a câmara. Alckmin não perdeu tempo e mandou a sua versão do "xingar muito no twitter" postando meme sobre a situação no instagram.
Parece que a queda da popularidade está deixando o presidente Lula levemente de mau humor, mas o Alckmin ainda não foi afetado pelo mesmo mau humor.
A Receita Federal anunciou que a arrecadação de março teve um aumento de 7,22% em comparação com o mesmo período do ano anterior, totalizando modestos R$190,611 bilhões. O maior valor desde a série histórica com início em 1995. Parabéns, você pôde ajudar contribuindo involuntariamente como nunca na história desse país.
EUA - Semana pedagógica
Essa semana o mercado de renda variável americano gostou dos desdobramentos, graças a uma ajudinha da atividade global e da perda de fôlego dos EUA. Os últimos PMIs, as pesquisas com os gerentes de compras da indústria e serviços, deram a entender que os EUA deram uma desacelerada.
Esse bom humor, principalmente por causa dos dados fracos do PMIs, respingou no mercado de renda variável - a divulgação dos resultados das empresas no 1T24 também deram uma ajudinha. Os 3 principais índices de ações americanos, S&P500, Nasdaq e Dow Jones, acumularam altas na terça-feira (23), os dois primeiros de mais de 1% inclusive.
A Tesla nos entregou um resultado surpreendente para esse trimestre. Com receitas e lucros ajustados que não chegaram nem perto do que a galera tinha como expectativa. O lucro caiu 55% no primeiro trimestre, por exemplo. Ações para baixo e uns bilhões a menos na conta de Elon Musk, correto? Errado.. A máquina de moer expectativas ingênuas do mercado agiu de novo!
Fonte: The Wall Street Jornal
A narrativa que o mercado encontrou para a performance de 12% de aumento nas ações da Tesla na quarta-feira (24), após a divulgação de um resultado pífio, foi: o bom humor do mercado, como comentei anteriormente; o anúncio sobre a Inteligência Artificial - palavras mágicas - ; direção autônoma e um suposto modelo de carro mais acessível. O discurso de como as coisas vão ser daqui para frente deram um belo empurrão nas ações da empresa.
Para a Meta aconteceu exatamente o oposto. O lucro da Meta mais do que dobrou, a receita cresceu mais do que 27% em comparação ao ano anterior, mas as ações da empresa caíram mais de dois dígitos nas negociações de pré-mercado na quinta-feira (25), após a divulgação dos resultados. Aqui a leitura foi de que os investidores questionam o futuro com investimentos em metaverso e Inteligência Artificial - palavras não tão mágicas para esse caso. O discurso deu um puxão - para baixo - nas ações da empresa.
Uma semaninha pedagógica para quem curte um bom stock picking.
Mas nada do que eu comentei até agora pegou tanto o mercado de surpresa quanto o resultado do PIB dos EUA no primeiro trimestre. O PIB cresceu apenas 1,6%, enquanto a expectativa do mercado era de 2,4%.
Um PIB menor é um alívio para a economia americana que está com um excesso de demanda, então essa freada do PIB será uma ajuda bem-vinda se, e somente se, a inflação cair também. O PCE oficial sai amanhã (26).
Frase do dia
"Não é o mais forte da espécie que sobrevive, nem o mais inteligente, mas o que melhor se adapta às mudanças." — Leon C. Megginson
Curiosidade da Semana
O termo "Bluetooth" vem do rei viking Harald "Bluetooth" Gormsson, famoso por unificar as tribos da Dinamarca durante o século X. Quando a tecnologia sem fio foi desenvolvida, os inventores buscavam um nome que representasse a união de dispositivos através de comunicação sem fio, assim como Harald unificou as tribos. Eles inicialmente usaram "Bluetooth" como um codinome temporário, mas o nome acabou se tornando oficial e amplamente adotado globalmente.
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