A Moody's mudou o mood: pode emprestar sem medo - Condado View
Legenda: Esta é a sua carta semanal para atualizar o cenário de mercado. O objetivo é que você pelo menos fique um pouco mais informado ou tenha o que comentar na mesa do almoço.
Brasil - Gangorra das Commodities
Voltamos a ser os queridinhos da Moody's! Depois de anos de reabilitação econômica, a agência resolveu nos dar aquele tapinha nas costas e elevou o rating do país na última terça-feira (01). O Brasil agora está a um passinho do tão cobiçado grau de investimento, o famoso selo de "não somos tão arriscados assim"… confia!
A melhora do rating é bem-vinda, mas precisamos ver nossas contas públicas melhor organizadas para termos sustentabilidade no longo prazo. Nosso principal desafio vem daqui, e a própria agência destacou que a credibilidade do Arcabouço é moderada, com um custo relativamente elevado da dívida. Ou seja, um elogio de leve, mas ainda estamos longe do troféu.
A valorização do Ibovespa na terça-feira (01) não teve nada a ver com a Moody’s subindo o nosso rating. A bolsa já tinha fechado quando a agência resolveu nos chamar de "quase-prontos". O Ibovespa, na verdade, foi impulsionado pela velha conhecida: Petrobrás, que pegou carona no aumento do preço do petróleo.
E por que o petróleo subiu? Mais um capítulo do drama eterno no Oriente Médio. Desta vez, a tensão escalou entre Israel e Irã. Às vésperas das celebrações do Ano Novo Judaico, o Irã lançou cerca de 180 mísseis contra Israel. Boa parte deles foi interceptada, mas a falta de danos maiores não impediu Israel de contra atacar. O recado de Israel é que vão continuar respondendo com força máxima.
No meio dessa pancadaria o mercado vê a produção e o transporte de petróleo em risco, o que, claro, eleva os preços da commodity no mercado internacional. Resultado: valorização de 2,67% da Petrobrás na terça-feira (01).
É assim, numa quinta-feira (26) você – Petrobrás – está chorando porque a Arábia Saudita anunciou que vai mexer no preço do barril. Aí, na terça-feira (01), uma bomba explode no Oriente Médio e, do nada, você volta a brilhar como uma das ações que puxam o Ibovespa para cima. Montanha-Oriente Médio. Só não vai sair por aí dizendo que tá feliz porque tem míssil caindo nos outros.
Já que estamos falando de commodities, aproveito para comentar o quanto a Vale está adorando os estímulos chineses. Pelo visto, o governo chinês concluiu que os pacotes que mencionei na semana passada não eram suficientes para tirar a economia do atoleiro e cumprir as metas de crescimento. Então, eles resolveram vir com um mimo de 1 trilhão de yuans para ajudar os grandes credores. O resultado? A Vale deu um salto de 5,73% na quinta-feira (26). Não diria que o Ibovespa surfou essa onda com estilo, mas pelo menos pegou um jacaré, subindo 1,08% e recuperando os 133 mil pontos. O entrave para o Ibovespa não valorizar mais foi a Petrobrás, que continuava sentindo o impacto da notícia de que a Arábia Saudita desistiu na semana passada, de manter a meta de 100 dólares por barril de petróleo.
Temos novidades sobre o debate da desancoragem das expectativas e o hiato do produto, com os novos dados liberados na sexta-feira (27). O Relatório Trimestral de Inflação (RTI) não trouxe grandes surpresas e manteve o tom hawkish do Banco Central. No horizonte relevante, a projeção do IPCA para o segundo trimestre de 2026 subiu para 3,5%. Ou seja, a tal da ancoragem das expectativas deve ficar mesmo para 2027 - na volta a gente compra, filho.
Por outro lado, o BC revisou a previsão de crescimento do PIB para 2023, subindo de 2,3% para 3,2%, corroborando aquela conversa que o hiato do produto anda mais apertado. Mas isso não é bom? Sim, mas… O Brasil está crescendo mais rápido do que o previsto, o que aquece a economia, e mais gente comprando o que a gente não consegue produzir joga mais pressão na inflação.
Os dados de desemprego vieram nos menores patamares históricos. Em agosto, o Brasil gerou um saldo de 232.513 vagas com carteira assinada, um aumento de 22% em relação a julho. É um número positivo, gente empregada é ótimo, mas muita demanda por trabalhadores aumenta o custo do trabalho, ou seja, do seu precioso salário. E todo mundo sabe o que acontece com mais dinheiro no bolso…
Por outro lado, tivemos um déficit de R$ 21,4 bilhões nas contas públicas em agosto. Vergonhoso? Sim, mas pasme: foi o melhor resultado em três anos. No acumulado dos últimos 12 meses o déficit é equivalente a 2,3% do PIB. Ainda precisamos de um ajuste fiscal sério para que esse número deixe de ser a bigorna que nos puxa para baixo.
EUA - Ninguém se atreve a citar goldilocks
Os EUA tiveram uma prévia interessante sobre o mercado de trabalho com os dados do JOLTS e do ADP nesta semana. Ambos indicaram uma leve aceleração nas contratações, mas a cereja do bolo é o payroll, que sai amanhã (04) e faz as vezes do verdadeiro termômetro.
No fim da semana, também saíram alguns dados importantes. O PIB do segundo trimestre cresceu os esperados 3%, sem grandes surpresas, mas a revisão do primeiro trimestre trouxe um toque positivo, subindo de 1,4% para 1,6%. Já o aguardado PCE de agosto trouxe boas notícias, desacelerando para 0,1%. O núcleo em 12 meses avançou para 2,7% até agosto, comparado aos 2,6% de julho, mostrando que a inflação segue sendo domada, aos poucos.
Ainda tivemos os pedidos de auxílio-desemprego caindo para o menor nível em quatro meses, e a surpresa positiva com as encomendas de bens duráveis, que ficaram estáveis em alta de 10%, contrariando a expectativa de uma queda de 2,5%.
Claro, nem tudo são flores: as vendas de imóveis seguem fracas, como vimos na semana passada. Mas há sinais de alívio: como a Freddie Mac anunciando que a hipoteca fixa de 30 anos caiu pela segunda semana consecutiva, agora com média de 6,35%, contra 6,46% na semana anterior.
Ninguém se atreve a citar goldilocks, mas eles não tão podendo reclamar.
Dados de mercado
Data-base: 02 de outubro de 2024
Fonte: Yahoo Finance
Frase do dia
“É muito comum ser totalmente brilhante e ainda assim pensar que você é muito mais inteligente do que realmente é.” – Munger
Curiosidade da semana
Você pode fazer ioiô no espaço. Em 2012, o astronauta da NASA Don Pettit levou um ioiô a bordo da Estação Espacial Internacional e demonstrou vários truques. Funciona porque um ioiô depende principalmente das leis de conservação do momento angular para executar truques, que, desde que você mantenha a corda esticada, se aplicam também na microgravidade.