This is a great time to buy!!! - Condado View
Legenda: Esta é a sua carta semanal para atualizar o cenário de mercado. O objetivo é que você pelo menos fique um pouco mais informado ou tenha o que comentar na mesa do almoço.
Semana de muito aprendizado sobre o funcionamento do mercado financeiro para quem está atento e disposto. Naturalmente que essa carta corre o sério risco de nascer velha e a realidade da sexta-feira ser completamente diferente do que eu estou escrevendo aqui.
O tema, não poderia ser outra coisa, são os desdobramentos da política de comércio exterior do presidente dos EUA, Donald Trump. Com o objetivo de reduzir a incerteza dos mercados diante das regras de política tarifária da maior potência econômica do mundo, resolveram trocar o diário oficial (X-Twitter) por uma coletiva de imprensa que deixaria o plano evidente para quem quisesse ouvir. E foi com isso que na quarta-feira passada (2), conforme comentamos aqui no View, o homem mais poderoso do mundo aparece com um PDF impresso contendo uma tabela com números, muita confiança e presença de palco, e o embrião da maior queda no índice S&P500 desde 2020.
O primeiro dia seguinte (3) foi tenebroso, tudo caiu, inclusive dólar e taxas das treasuries, a bolsa brasileira ficou de lado e a curva de juros local fechou quase 40 bps. O segundo dia (4), foi quase tão tenebroso quanto, tudo caiu mas o dólar subiu, e a gente não passou ileso dessa vez, despencamos junto com o resto do mundo. O curioso é que o noticiário não havia mudado durante o final de semana, mas na segunda (7) e terça feira (8) a dinâmica das treasuries tinha se invertido. Passaram a subir com muita força superando inclusive os níveis pré “Liberation Day”. Na quarta-feira veio o alívio, ao som de música de festa junina um “é mentira” ecoando pelas suas redes sociais preferidas.
Como prêmio pelo bom comportamento dos vassalos com, segundo informações colhidas, mais de 75 países manifestando interesse em realizar acordos bilaterais com os EUA, Trump resolve seguir o conselho de Bill Ackman e postergar por 90 dias as acachapantes tarifas, colocando todo mundo no mesmo balaio que a gente, o balaio da taxa mínima (10%). Quem ficou de fora da molezinha foi a China, arqui-inimiga estadunidense, detentora de um déficit comercial de quase meio trilhão de dólares com os EUA e que ficou com +125% de tarifas. A Shein dos EUA vai competir em preços com a Hermes.
Sabe aquela sensação quando a diretora da escola está dando uma bronca em todo mundo, mas, no fundo, no fundo, você sabe que quem aprontou foi o Juquinha? Então, nesse caso o Juquinha é a potência manufatureira que está afrontando a hegemonia americana no mundo.
Naturalmente o S&P fecha o dia (9) subindo +9,5% e o índice amplo da NASDAQ +12,05%. E pra quem não teve o discernimento de aportar suas economias nos ativos de risco enquanto estava todo o mundo no mais absoluto desespero, não dá pra dizer que o homem não avisou:
Tarifas são uma ferramenta muito impactante porque viabilizam a façanha de aumentar os preços enquanto diminuem a atividade econômica do país. É um passo em direção à estagflação (estagnação + inflação), que é o regime econômico que tira o sono de qualquer banqueiro central que se importa com o que faz. Isso porque, ao contrário do exemplo de proatividade que é você no seu trabalho, os bancos centrais detestam quando um problema não pode ser resolvido por eles.
E isso ajuda a explicar porque as bolsas e todos os outros ativos de risco estavam entrando em parafuso diante de uma possibilidade tão perturbadora quanto o regime econômico que obrigou Paul Volcker a subir juros quase a 20% no começo da década de 80.
E ajuda também a explicar o que estava por trás do contraste do comportamento da treasury entre os dois primeiros dias e os três últimos dias da saga. O que vai acontecer primeiro a estagnação (corta-se juros) ou a inflação (aumenta-se juros)? Parece que o mercado ainda estava se decidindo, mas o pessoal decidiu acabar com a farra do caos e postergar por 90 dias as tarifas.
Existe também a hipótese do movimento de fluxo ter contribuído. Nem só de fundamento se vivem os portfólios, e o que deve ter tido de chamada de margem não está no gibi, está no Financial Times.
Naturalmente, conjecturas. Pouco se dá pra ter de certeza do que exatamente estava por trás das decisões coletivas de compra e venda que levaram aos movimentos de preços dos últimos dias, mas assim, uma oportunidade incrível de estar no meio do olho do furacão e ver a capacidade humana de criar uma infinidade de explicações para o fenômeno transcorrendo diante dos nossos olhos. Muitas delas são úteis para tentar entender melhor as mecânicas que produzem preços, principalmente em regiões tão pouco corriqueiras da distribuição de retornos: os extremos.
Falando nisso
Os 100 primeiros dias do governo Trump são o tema da série especial com quatro episódios do PodInvestir, o podcast original da Inteligência Financeira: uma análise detalhada dos impactos econômicos, geopolíticos e financeiros do novo mandato — do S&P aos efeitos na economia real em 6 atos.
Ato 1: Euforia Inicial nos Mercados
Ato 2: Reversão Rápida de Sentimento
Ato 3: Volatilidade e Incerteza
Ato 4: Impactos Econômicos Negativos
Ato 5: Reação Global
Ato 6: Efeitos no Brasil
O balanço de riscos daqui pra frente parece cada vez mais incerto. No primeiro episódio foram analisados os efeitos sobre o Brasil e sobre os investimentos, do ponto de vista dos brasileiros.
Clique aqui para saber mais e acompanhar a série completa. Já está disponível os episódios com Bruno Serra, gestor da família de fundos Janeiro e ex-diretor de política monetária do Banco Central, e José Rocha, da Dhalia.
Dados de Mercado
Data-base: 09 de abril de 2025
Fonte: Yahoo! Finance
Frase do dia
É preciso grande sabedoria para perceber a extensão da própria ignorância - Thomas Sowell
Curiosidade da Semana
Você inala 50 bactérias potencialmente nocivas toda vez que respira. Felizmente, seu sistema imunológico está trabalhando duro o tempo todo, então praticamente todas elas são destruídas rapidamente sem que você sinta nada.